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domingo, 4 de janeiro de 2015

Aquele dia que ficou perdido em nossos calendários.

Ela já amou de verdade. Ainda diz que foi uma fase, mas o amor existiu. Depois daquilo nada foi suficiente. Prometeu nunca mais se entregar sem ter certeza, desacreditou no amor e se fez uma pessoa que não se entrega ao primeiro. Criou amargor. Beijou dezenas, Amou nenhum. 
Quando se via perto de se apaixonar, se induzia a acordar.

Toda essa muralha deu lugar a um calabouço. Um vazio escuro em seu peito. Um lugar inabitado esperando para ser explorado. Cada vez mais a solidão se fez presente. Ela percebeu, e encheu esse buraco de álcool. E foi numa dessas que ele apareceu. Um conhecido de longa data. Uma nova perspectiva. Um beijo e uma sensação: agradável e conveniente. "Vou usá-lo para curar a carência de afeto".

Aos poucos foi percebendo uma certa loucura em seu par. E percebendo que ali não teria amor sentiu-se mais segura. Não é amor o que ela procura e sim saciação.

Esperava todos os dias. Sonhava. Olhava-o com o mais profundo olhar de desejo. O do leão pra carne. O da criança para o peito da mãe.

_Estou sozinha. Vem pra cá.

Finalmente, finalmente, finalmente...

Ela ajeitou a casa, trocou de roupa. Não penteou o cabelo. Mas trocou os lençóis da cama. 

ELA TROCOU OS LENÇÓIS DA CAMA.

Se jogou no sofá da sala e assistiu top gun enquanto esperava. take my breath away.

A campainha tocou. Seja natural. Seja natural. Ela atendeu. Ele estava ao telefone. Droga!

Entraram, sentaram. Ao telefone.
_Desculpa.
_Tudo bem.
_Era do trabalho.
_Tá, e aí, tudo bem?

Não houve resposta. Quando viu já estavam ali. No desconfortável sofá de couro, procurando alguma forma de se beijarem. As mãos dele no seu rosto. Rápido demais.

Não há amor.

_Aqui não dá.

Ai que saco, dane-se.

Se levantam. 

_Em pé não dá.

Ai que saco, dane-se.

_Vamos para o seu quarto.

NÃO!!!

O quarto estava mais em ordem do que nunca. Tinha lençóis na cama. Não há amor. O quarto era muito dela para ser entregue assim. Lá ela seria só uma presa indefesa, uma presa de si mesma. Não. No quarto dela não. Ela ainda passou pelo quarto do irmão e por um segundo passou pela sua cabeça "essa não seria a primeira vez que ela se deitou com alguém naquele quarto inocente" MEU DEUS, COMO PÔDE PENSAR NISSO??

Não. No quarto não. E o segurou pelo braço. De repente seu pescoço foi envolto pelas mãos dele. Ela poderia se sentir ameaçada... se não tivesse tão... entregue.

Sufoco. A empurrou na parede. Pés longe do chão. Saciação. Pa para. Sufoco.

_Porque você faz isso?

Essa sensação era nova pra ela. Se sentia frágil como nunca antes. Antes ela fora alpha. Era ela que jogava contra parede. Quis brincar também. 

_Ah, você gosta assim?

Mas dessa vez suas mãos pequenas não fizeram efeito nenhum.

Antes que pudesse perceber estava rendida. O telefone tocou. DROGA.

_Desculpa. 
_Tudo bem.

Eu quero mais. Mais.

Sentou-se em seu colo. O olhar dele.. quando foi que ela despertou aquele olhar?? No meio dos cabelos, os beijos. Eram exatamente como os de antes. Ele beija exatamente como ela quer. Como elas beijavam. Ah, as suas mãos.. exatamente onde ela deseja. 

_Deita.

Opa, sou a presa mais uma vez. Se eu fizer isso... eu não vou me controlar. Eu não estou pronta agora. Serei uma decepção, pra nós dois.

_Não.
_Deita.

Bom-humor. Abortar missão. Abandonar navio. Se joga no chão e ri.

Assim ela caiu do sofá, assim ela fugiu e achou que ia escapar.

_Amarra o cabelo.
_O que? Como??
_Daquele jeito.

_Senta aqui. Vou te mostrar uma coisa.

Ah, A nuca, o pescoço, as orelhas. Parece até que ele sabia exatamente todos os seus pontos fracos.
Era ela. Ela deslisava pelo corpo alheio. Mas o seu. Ele fez ela sentir o que não sentiu antes. Seus beijos, as mãos em suas pernas, dedos passeando em seu decote. Ele a fez se sentir, arrepio, mulher.

_Melhor você ir embora.

Se ficasse ali mais meia hora...

Ela trocou os lençóis.

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