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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Amem

Nada posso naquele que me enlouquece

O senhor é meu amor
e nada lhe faltará.


Que o amor esteja convosco
_ Ele se parte dentro de nós.
Corações em prantos
_ Meu coração já era seu.
Demos graças ao amor, o dele e o seu.
_ É todo o prazer de nossa salvação.

Este é meu corpo
tomai, todos, e comei.

Deitada na cama numa manhã de segunda
Abriu os olhos num dia de sorte
Seria naquela tarde que encontraria um alguém
pra lhe livrar de uma pena de morte.

Uma pena.
A sentença para o amor que não vingou
O advogado do coração deu por causa perdida.
Réu culpado. Por furto de sentimentos.

Ela teve todos os seus bens levados
Da sensibilidade à compaixão.







domingo, 18 de janeiro de 2015

O prazer é todo meu

Somos apenas dois desconhecidos
que se desejam insaciavelmente.
Apenas estranhos.
Que se engalfinharam da vida um do outro
e não vão sair.

Duas pessoas que nunca foram apresentadas.

Dois seres com destinos distintos.
Fadados a se procurarem
eternamente em outros lábios,
outras pernas.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Empoeirada

Entre Sidney Sheldon e Bukowisk a vi do outro lado da prateleira. O cheiro empoeirado dos livros não era mais forte que o seu perfume exalava tomando conta de todos os meus sentidos. Eu estava ali, apenas procurando um romance policial mas o romance me pegaria primeiro.
Eu gostaria de ser um narrador onipresente dessa curta história para saber que livro ela procurava. Machado ou Florbela Espanca? Clássico ou ficção? Auto-ajuda?
Ela passou, levando alguns livros amarelados, e eu fiquei lá, apenas lendo curtos poemas de amor. Tão curtos como essa última paixão.  

Adeus.

Eu venho agora
De um cortejo fúnebre
Pois está morta e enterrada a esperança
O futuro é apenas uma lembrança
E já nem vale a pena chorar

Eu trago o luto
Pelo meu pouco pudor
Foi sepultado. Sacramentado sem amor
Eu tenho o pranto da viúva que lamenta
A morte da própria inocência. 

E no velório da moral e tais costumes
Choram amantes exalando seus perfumes
Somos mulheres embriagadas e sem escrúpulos
Trocando receitas pra sanar nossos soluços.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Aquele dia que ficou perdido em nossos calendários.

Ela já amou de verdade. Ainda diz que foi uma fase, mas o amor existiu. Depois daquilo nada foi suficiente. Prometeu nunca mais se entregar sem ter certeza, desacreditou no amor e se fez uma pessoa que não se entrega ao primeiro. Criou amargor. Beijou dezenas, Amou nenhum. 
Quando se via perto de se apaixonar, se induzia a acordar.

Toda essa muralha deu lugar a um calabouço. Um vazio escuro em seu peito. Um lugar inabitado esperando para ser explorado. Cada vez mais a solidão se fez presente. Ela percebeu, e encheu esse buraco de álcool. E foi numa dessas que ele apareceu. Um conhecido de longa data. Uma nova perspectiva. Um beijo e uma sensação: agradável e conveniente. "Vou usá-lo para curar a carência de afeto".

Aos poucos foi percebendo uma certa loucura em seu par. E percebendo que ali não teria amor sentiu-se mais segura. Não é amor o que ela procura e sim saciação.

Esperava todos os dias. Sonhava. Olhava-o com o mais profundo olhar de desejo. O do leão pra carne. O da criança para o peito da mãe.

_Estou sozinha. Vem pra cá.

Finalmente, finalmente, finalmente...

Ela ajeitou a casa, trocou de roupa. Não penteou o cabelo. Mas trocou os lençóis da cama. 

ELA TROCOU OS LENÇÓIS DA CAMA.

Se jogou no sofá da sala e assistiu top gun enquanto esperava. take my breath away.

A campainha tocou. Seja natural. Seja natural. Ela atendeu. Ele estava ao telefone. Droga!

Entraram, sentaram. Ao telefone.
_Desculpa.
_Tudo bem.
_Era do trabalho.
_Tá, e aí, tudo bem?

Não houve resposta. Quando viu já estavam ali. No desconfortável sofá de couro, procurando alguma forma de se beijarem. As mãos dele no seu rosto. Rápido demais.

Não há amor.

_Aqui não dá.

Ai que saco, dane-se.

Se levantam. 

_Em pé não dá.

Ai que saco, dane-se.

_Vamos para o seu quarto.

NÃO!!!

O quarto estava mais em ordem do que nunca. Tinha lençóis na cama. Não há amor. O quarto era muito dela para ser entregue assim. Lá ela seria só uma presa indefesa, uma presa de si mesma. Não. No quarto dela não. Ela ainda passou pelo quarto do irmão e por um segundo passou pela sua cabeça "essa não seria a primeira vez que ela se deitou com alguém naquele quarto inocente" MEU DEUS, COMO PÔDE PENSAR NISSO??

Não. No quarto não. E o segurou pelo braço. De repente seu pescoço foi envolto pelas mãos dele. Ela poderia se sentir ameaçada... se não tivesse tão... entregue.

Sufoco. A empurrou na parede. Pés longe do chão. Saciação. Pa para. Sufoco.

_Porque você faz isso?

Essa sensação era nova pra ela. Se sentia frágil como nunca antes. Antes ela fora alpha. Era ela que jogava contra parede. Quis brincar também. 

_Ah, você gosta assim?

Mas dessa vez suas mãos pequenas não fizeram efeito nenhum.

Antes que pudesse perceber estava rendida. O telefone tocou. DROGA.

_Desculpa. 
_Tudo bem.

Eu quero mais. Mais.

Sentou-se em seu colo. O olhar dele.. quando foi que ela despertou aquele olhar?? No meio dos cabelos, os beijos. Eram exatamente como os de antes. Ele beija exatamente como ela quer. Como elas beijavam. Ah, as suas mãos.. exatamente onde ela deseja. 

_Deita.

Opa, sou a presa mais uma vez. Se eu fizer isso... eu não vou me controlar. Eu não estou pronta agora. Serei uma decepção, pra nós dois.

_Não.
_Deita.

Bom-humor. Abortar missão. Abandonar navio. Se joga no chão e ri.

Assim ela caiu do sofá, assim ela fugiu e achou que ia escapar.

_Amarra o cabelo.
_O que? Como??
_Daquele jeito.

_Senta aqui. Vou te mostrar uma coisa.

Ah, A nuca, o pescoço, as orelhas. Parece até que ele sabia exatamente todos os seus pontos fracos.
Era ela. Ela deslisava pelo corpo alheio. Mas o seu. Ele fez ela sentir o que não sentiu antes. Seus beijos, as mãos em suas pernas, dedos passeando em seu decote. Ele a fez se sentir, arrepio, mulher.

_Melhor você ir embora.

Se ficasse ali mais meia hora...

Ela trocou os lençóis.

sábado, 3 de janeiro de 2015

não

por mais que você queira
isso não acabará
não tem como terminar
o que nunca teve um começo.

apneia

Quando um lago é transparente
ele te convida para ser explorado.
Límpido, insípido.
Pronto para o seu mergulho.

trinta, quarenta
375 metros de profundidade.

E você sempre estará seguro
e facilmente volta a superfície.

Você entra, dá um mergulho
e vai embora.

Quando um lago é turvo
ele te instiga para ser explorado.
Inseguro, inóspito.
Como mergulhar?

qual será a profundidade, o que
as águas guardam.
... que monstro marinho se esconde ali?

você não se joga em um lago turvo
pois não sabe quando vai voltar.

entra e simplesmente se perde.
até o último átomo de oxigênio ser consumido
pelo coração acelerado que entra em desespero
a procura de luz na superfície.

Apneia.
Asfixia.
Afogamento.



sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

o que eu não te contei

Eu te contei sobre escritos em vapor
eu te contei sobre meu amor proibido
fiz isso pra te encantar, provocar também, você sabe.

Te contei sobre banheiros
mas te contei por cima.

Eu te contei que todo ser-humano tem uma fantasia secreta?

Enquanto você faz a sua jornada
a procura da substância
que preencha seu vazio,

Eu sinto o maior prazer
em dar o play e assistir.

Voyeur.

Aquilo tudo...
a asfixia e os segredos de liquidificador...
eu acho que nunca senti aquilo,
eu era a outra pessoa.
A que faz, não a que sente.

Eu te contei que fumava depois do sexo?
contei que não fumo há uns dois anos,
nossa já vai fazer três.

Não era isso que eu queria te contar.

O ponto em que eu quero chegar, é que tenho meus vícios.
E posso largá-los facilmente.

A diversão está aí.
Vício e Abstinência.

02/01/15

seu falso amor próprio

Você é meio estranha.
Tem umas manias... sei lá
te fazem ser você.

Especial.
Essa sua vontade de ser especial.
Isso é adorável, mas te consome.

Sabe o que eu gosto em você?
Esses seus olhos fundos.
suas sobrancelhas, e o jeito que você faz aquilo com elas,
aquilo de deixar arqueada. E como você pisca, sabe?

E o espacinho nos seus dentes, o jeito que molha os lábios
antes de sorrir, e como brinca com essa porcaria de piercing inútil quando está entediada.
E como seu sorriso é terno.
Eu gosto como você sorri.

Você tem um humor tão diferente.
É transparente, mas mesmo assim...
você é feliz mesmo quando está triste.
Exceto quando está muito triste, isso realmente assusta.
Parece que você vai explodir.

E seu senso de humor é péssimo, acredite
você é horrível tentando ser engraçada.
Mas é divertida quando é natural.

Eu gosto quando fica bêbada.
E como você bebe rápido para ficar tonta.
Por qual motivo você faz isso?
Você gosta daquela sensação de não ter os pés no chão né?

Sabia que você é maluca?

Sua fruta favorita é limão?
Quem fuck gosta de limão?

Você tem aquele tom horrível.
Aquele agudo quando quer enfatizar alguma coisa.
Ou quando está disfarçando algo.
você não me engana mais,

E o tom em que você fala "ok"
eu nunca sei o que significa seu ok.
Aliás, eu odeio você ser tão boa com metáforas.
e ficar dando voltas em tudo que deseja falar.

Também odeio aquela sua mania de estralar o pescoço
é estranho.
Já o seu pescoço. Bom, eu não vou entrar nesse detalhe.

Mas gosto daquilo que você faz com os cabelos.
Sabe, quando vai falar alguma coisa e mexe nele todo?
Como ela ganha vida. E se você não gosta de alguma coisa, joga todo ele pra trás.

Você, e suas mão pequenas.
Você parece uma criança às vezes.
Na maioria delas.

Onde está a mulher atrás dessa garota de 11 anos?

Você é estupidamente convencida.
Você sabe o que faz. e que faz bem.

e eu adoro como você finge entender o que eu falo
quando na verdade, está só sendo seduzida pelo som da minha voz.

Mas sabe o que eu realmente mais gosto em você?
Todo esse seu amor próprio.
Esse seu espírito de quem não precisa de ninguém.
Mas nós dois sabemos que tudo isso é mentira.

Você precisa tanto de alguém que está escrevendo pra si mesma.
E você sabe... que esta escrevendo... os sentimentos que não são de ninguém.
Não é por que eu quis te conhecer, e deixei você me conhecer
que mudou alguma coisa.

Não se aproprie do que ele diz pra se auto-confortar.






Degusta

O que se passa na mente
de você que ama demais?
Espírito quente, instinto demente
que conveniente, quando você mente
será que se salva, a alma de gente
que ama ou que sente
que o amor é fugaz.

Numa hora é decente
mais um minuto
e já não satisfaz.

O que você quer?
O que você come?
Quem você come?
Eu quero saber.

O que há na mente
desse compulsivo
impulsivo
incisivo
isso.

Quando você come, se tiver fome?
Sua fome tem nome?
o que te sacia?
se delicia?
tem tipo, tem cor?
qual é o sabor.??

A carne é macia?
o suco é doce?
Qual é o tempero
que te faz salivar?

Eu quero a receita
que na cama deita.
Qual é o prato que
você vai provar?